Após Caixa mudar regras de financiamento, juros de bancos sobem e mercado teme desaquecimento
Foto: João Godinho / O Tempo
Clientes precisarão dar pelo menos 30% do valor do imóvel de entrada pelo sistema de amortização SAC e 50% pelo sistema Price
Da Redação
O anúncio da Caixa Econômica Federal sobre a mudança nas regras de financiamento de imóveis com recursos da Poupança (SBPE), que passam a valer a partir de 1º de novembro, deve afetar não apenas o bolso do consumidor, que vai pagar uma entrada maior na hora de comprar um imóvel, mas também já provoca o aumento dos juros em outros bancos. O Itaú Unibanco subiu sua taxa média de 10,49% para 10,79% ao ano + TR (Taxa Referencial), no início deste mês. O motivo disso é que as instituições privadas devem atrair parte dos consumidores que vão perder acesso ao crédito imobiliário pela Caixa.
Já o Bradesco, que oferece taxas de juros de crédito imobiliário a partir de TR + 10,49% a.a., afirma que avalia reajustes de olho no cenário atual, enquanto o Santander, com taxas a partir de 10,99% ao ano + TR, diz que a alta dos juros está prevista para ocorrer “em curtíssimo prazo”.
— Se o contexto e demanda atual se mantiverem, haverá alta de juros — afirma o diretor de negócios imobiliários do banco, Sandro Gamba.
Além da mudança nos valores das cotas, a Caixa também anunciou que passará a financiar a compra ou a construção individual de imóveis que tenham valor de avaliação ou de compra e venda limitado a R$ 1,5 milhão. No modelo atual não existe limite na modalidade. O cliente também não poderá ter outro financiamento habitacional ativo com o banco.
Além da alta de juros, entidades do mercado já temem o desaquecimento na construção civil. Raphael Lafetá, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), classifica a medida como “abrupta” e aponta que poderá haver desaquecimento do mercado. Segundo ele, as construtoras vão precisar absorver o valor que antes era abarcado pelo financiamento, o que pode enfraquecer o caixa das empresas.
— Isso pode levar à diminuição de empregos e da oferta de imóveis no mercado, uma vez que o setor estará mais inseguro diante das novas regras. Uma das consequências da baixa oferta é inflacionar ainda mais os preços dos imóveis, tornando o sonho da casa própria ainda mais distante — analisa.
Demanda por imóveis
De acordo com a Caixa, a redução do financiamento foi motivada pela crescente demanda por imóveis no mercado brasileiro e pelo maior volume de saques da caderneta de poupança – origem dos recursos utilizados para os empréstimos via SBPE. Segundo o Banco Central do Brasil (BC), a poupança registrou o maior volume de saques líquidos do ano em setembro: R$ 7,1 bilhões. Esse também foi o terceiro mês seguido de retiradas.
Em relação às contratações com recursos da Poupança (SBPE), a Caixa informa que é responsável por 48,3% das contratações dos financiamentos no país, correspondendo a R$ 63,5 bilhões das operações realizadas pelo banco até setembro deste ano.
Leonardo Matos, diretor da Câmara do Mercado Imobiliário e Sindicato da Habitação de Minas Gerais (CMI/Secovi-MG), aponta que “o pagamento de dívidas” e a “baixa rentabilidade” da poupança motivam o alto número de retiradas. Segundo ele, a medida afetará principalmente a classe média, que financia imóveis entre R$ 300 mil e R$ 500 mil, e também poderá pressionar o mercado da locação.
— Com a mudança nas regras, pode ser que as pessoas precisem morar por mais tempo de aluguel para economizar o valor da entrada. Assim, vai inflacionar ainda mais um mercado que já anda aquecido, podendo levar a um aumento dos preços — disse.
Considerando todos os tipos de financiamento da Caixa, já foram disponibilizados R$ 175 bilhões de crédito imobiliário até setembro deste ano, o que representa um aumento de 28,6% em relação ao mesmo período de 2023.
Quais soluções
Os especialistas também apontam que não é de hoje que os recursos para o financiamento estão se tornando mais escassos. Segundo dados recentes do Banco Central do Brasil (BC), a caderneta de poupança registrou o maior volume de saques líquidos do ano em setembro, totalizando R$ 7,1 bilhões. Esse também foi o terceiro mês seguido de retiradas.
Em 2023, a caderneta de poupança já havia encerrado com saldo negativo de R$ 87,8 bilhões. Foi o segundo maior resgate em um ano da série histórica, iniciada em 1995. Em 2022, a retirada recorde da poupança somou R$ 103,2 bilhões.
— Fica o questionamento para o futuro, o que a Caixa vai fazer já que os recursos da poupança e do FGTS já não estão dando mais conta? — questiona Matos.
Já o presidente do Sinduscon-MG critica as alterações nas regras das Letras de Crédito Imobiliário (LCIs), cujo prazo mínimo de vencimento foi ampliado de 90 dias para 12 meses.
— O governo poderia ajudar reduzindo esse prazo, o que aumentaria a liquidez, e liberando parte do compulsório de bancos para crédito imobiliário — argumenta Lafetá.
Fonte : Jornal O Tempo (Com Ana Paula Branco/Folhapress)